ENTREVISTA ESPECIAL E HISTÓRICA COM NABOR JÚNIOR: "Meu título eleitoral é de Tarauacá e não vou transferir nunca. Vou morrer com meu título em Tarauacá"

O ex-governador do Acre, Nabor Junior, mora com a esposa, dona Darcy em uma casa no Lago Sul, em Brasília/Fotos: Wania Pinheiro

Uma pessoa feliz. Essa foi a impressão que tive ao entrevistar o ex-governador Nabor Júnior depois de quase uma década que ele se aposentou da política acreana. O Nabor que a maioria dos acreanos conhece continua o mesmo: sorriso no rosto e com aquele “corpitio” de fazer inveja a muitos garotões sarados. Aos 82 anos, ele pratica duas horas de exercício de tai chi chuan, de segunda a sexta-feira. Só interrompeu essa rotina na última sexta-feira (15) para receber a reportagem da Agência ContilNet em sua casa, localizada no Lago Sul, em Brasília.

Sempre acompanhado da esposa, dona Darcy, o homem que cumpriu 40 anos de mandato estava se preparando para fazer um pronunciamento na tribuna do Senado Federal, no dia 18 de junho, quando o Acre foi homenageado pelos seus 50 anos de emancipação política. Perguntei se ele sempre ia ao Congresso Nacional. “Só quando me convidam para um evento importante, como o que vai acontecer na segunda-feira”, disse.

Nabor Teles da Rocha Júnior nasceu no dia sete de novembro de 1930, no seringal Ariópoles, localizado às margens do Rio Muru, no município de Tarauacá. Em 1943, foi morar na cidade, onde o pai estabeleceu-se como comerciante. Nabor deixou a terra natal e foi estudar em Fortaleza (CE), junto com seus irmãos, no ano de 1951. Em Fortaleza, casou-se com dona Darcy, que também era estudante, e teve sua primeira filha.

No ano de 1960, Nabor Júnior voltou para Tarauacá, onde foi trabalhar no comércio do sogro, na época, um dos maiores da região. Com a convocação para a eleição da Assembléia Constituinte, em 1962, ele se candidatou e foi eleito deputado estadual pela primeira vez. Depois, cumpriu mais dois mandatos na Assembléia Legislativa.

Já com o nome consolidado em todo o Estado, foi eleito deputado federal por dois mandatos, em 1974 e em 1978, respectivamente. Em 1982, com a abertura do processo democrático, Nabor Júnior foi eleito governador após 20 anos de ditadura militar. Ficou no governo até 1986, quando disputou uma vaga no Senado e foi eleito como o mais votado. Em 1994, foi reeleito senador da República.

A carreira de Nabor Júnior foi interrompida no ano de 2002, quando disputou a reeleição e perdeu para o candidato Geraldo Mesquita Júnior, indicado pela Frente Popular do Acre (FPA). Desde então, decidiu se aposentar e morar em Brasília com a esposa e os seis filhos.A família de Nabor Júnior aumentou muito. Hoje ele tem sete netos e uma bisneta. “Sou muito feliz pelos meus filhos e pelos parentes e amigos que tenho. Quando preciso, eles sempre estão ao meu lado”, diz.

Ao falar sobre política, Nabor descarta qualquer possibilidade de disputar outro mandato e até de subir em palanques. “Acho que não tenho mais ‘cancha’ para isso. Sou um político aposentado, afastado das atividades”, diz.Outro detalhe de causar inveja a muitos jovens é a incrível memória de Nabor Júnior. Em poucas horas de conversa, contou histórias sobre o Acre e lembrou coisas que muitos jornalistas não sabem, ou pelo menos ainda não contaram. 

Veja os melhores trechos da entrevista exclusiva que Nabor Júnior concedeu à Agência ContilNet:

Agência ContilNet - Como está sua vida depois de tantos anos longe do Acre?

Nabor Júnior - Levando a vida de político aposentado. A última vez que disputei uma eleição foi em 2002, mas como perdi me afastei da atividade política. Minha vida é voltada para a minha família. Vou ao banco, levo minha mulher ao médico. Quando a gente vai envelhecendo, vão aparecendo os problemas de saúde. Faço exercício de tai chi chuan de segunda à sexta, em um posto de saúde que fica próximo à minha casa. Aos sábados, vou a Feira do Guará, faço isso há mais de 20 anos. É um hábito que mantenho fazer comprar lá. Depois vou ao supermercado com minha esposa. Aos domingos, recebo meus filhos, os netos e nossa bisneta para almoçar. É uma maneira de estreitar ainda mais a boa relação que temos.


Agência ContilNet - Então o senhor não pretende mais disputar um cargo político?

Nabor Júnior - Não! Depois de uma longa reflexão, após perder a eleição para senador, cheguei a seguinte conclusão: houve uma renovação muito grande no eleitorado do Acre. Fui eleito com 60 mil votos em 1992, no último mandato de senador. Hoje eu precisaria de 200 mil votos. O Jorge Viana e o Petecão foram eleitos com 200 mil votos. Muitos eleitores nem me conhecem mais.

Agência ContilNet - Mas o seu nome ainda é muito conhecido e lembrado no Acre...

Nabor Júnior - Eleitor novo quer votar em um candidato novo, quer votar em um projeto de renovação. E isso não é só na atividade política, é em toda atividade humana, como no esporte, na medicina, engenharia e em muitas outras... Tanto que hoje os executivos das grandes empresas preparam os filhos, seus parentes para substituí-los. Para você ver como estou desatualizado que não conheço muitos políticos e vereadores que exercem mandato hoje no Acre. Esse processo de renovação é perfeitamente salutar e saudável. Estou conformado com isso. E também por ter perdido as eleições em 2002.

Agência ContilNet - Quando o senhor vai ao Acre, tem uma data programada?

Nabor Júnior - No momento, não tenho programação. Tenho muita saudade do Acre, dos meus amigos que me prestigiaram durante 40 anos de mandato, do povo de Tarauacá. A última vez que estive lá foi a convite do Flaviano, para participar de uma sessão solene em homenagem ao aniversário do PMDB, na Assembleia Legislativa. Então aproveitei para visitar Tarauacá.Agência

ContilNet - E seu título de eleitor foi transferido para Brasília?

Nabor Júnior - Não! Meu título é de Tarauacá e não vou transferir nunca. Vou morrer com meu título em Tarauacá.

Agência ContilNet - Mas há alguma possibilidade de pelo menos subir em palanque para pedir votos para algum candidato?

Nabor Júnior - Não tenho a intenção. Acho que não tenho mais cancha para isso. Sou um político aposentado, afastado das atividades. Posso ir ao Acre para visitar meu Estado, as pessoas que gosto, que me prestigiaram durante tantos anos.

Agência ContilNet - O senhor vai sempre ao Congresso?

Nabor Júnior - Raramente. Só quando é para participar de alguma solenidade, como essa de segunda-feira que vai fazer uma homenagem pelos 50 anos da transformação do Acre em Estado. Fui convidado pelo presidente do Senado. Também participei de uma sessão solene em homenagem aos 38 anos de fundação do PMDB. Para ir ao Congresso tenho que vestir terno, gravata, então tenho ficado mais em casa.

Agência ContilNet - O senhor acompanha o noticiário político do Acre?

Nabor Júnior - A gente acompanha mais pela internet. Algum amigo liga ou me faz uma visita e fico sabendo algumas coisas.

Agência ContilNet - Mesmo distante, como analisa o Acre de hoje?

Nabor Júnior - Apesar de estarmos afastados, percebemos que existe um progresso material, sobretudo pela ajuda do governo federal aos governos do Partido dos Trabalhadores desde o Fernando Henrique Cardoso, quando o PT era aliado do PSDB e houve muito investimento no Acre, principalmente na BR-364, na construção de pontes e outras obras que foram realizadas pelo governo estadual. Teve também muitos financiamentos que foram conseguidos pelo governo do Jorge Viana, do Binho e agora do Tião Viana, e isso ajudou bastante.

Agência ContilNet - E a oposição?

Nabor Júnior - Estamos vendo que a oposição está se aglutinando, se fortalecendo. E podemos ver isso quando nos reportamos há dois anos, quando a oposição quase ganhou o governo. E agora, pelas informações e pelas pesquisas que temos visto, a oposição poderá eleger muitos prefeitos, inclusive o prefeito da Capital.

Agência ContilNet - E os escândalos que vêm acontecendo no Brasil, como esse do Cachoeira e o julgamento do Mensalão...

Nabor Júnior - Esses acontecimentos são realmente deploráveis. A gente percebe que a administração pública está se deixando influenciar muito pela atuação desses aproveitadores, que querem tirar proveito do governo, das obras, que pagam propina para políticos para poder ganhar licitações. Então isso é muito ruim para um país civilizado como o Brasil, que está em outro estágio.

Agência ContilNet - E isso vai dar alguma coisa?

Nabor Júnior - Não acredito que isso dê em nada, principalmente nessa CPI do Cachoeira. Ninguém foi punido criminalmente, enfim acho que não vai dar em nada.

Agência ContilNet - Fique à vontade para acrescentar mais alguma coisa...

Nabor Júnior - Só quero me parabenizar por ter recebido você aqui na minha casa, que é uma amiga que conheço há pelo menos 30 anos. Também, dizer que estou feliz por comemorar mais um aniversário do Acre com saúde, junto com minha família e meus amigos. Depois do Tratado de Petrópolis, a consolidação da incorporação das terras do Acre ao território brasileiro foi o acontecimento mais importante para o nosso Estado, quando em 15 de junho de 1962 foi assinada a lei 4.070, que elevou o Acre a categoria de Estado. Quero aproveitar para mandar minha mensagem de saudade ao povo da minha terra que durante tantos anos sempre me prestigiou.

Agência ContilNet - E a dona Darcy, não quer falar nada?

Dona Darcy - Não, só dizer que estou bem, mas com saudades de Tarauacá do Acre.

Matéria de autoria da jornalista Wânia Pinheiro, extraída do Site Contilnet

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