ARTIGO: Peixe - projeto vencedor

"Terça-feira fui ver de perto a Central de Piscicultura construída pelo governo do Estado a 32 km de Rio Branco, na BR-364. Passei boa parte da manhã na companhia dos técnicos Renato Mandotti, gerente de operações da Fábrica de Ração, e Jair Baterline, responsável pelo Frigorífico de Processamento de Peixes. Faltou conhecer o centro de produção de alevinos, já em atividade, que completa o projeto colocando o Acre na dianteira da criação e processamento de peixes de água doce na Amazônia e no Brasil.

Não estou sendo ufanista! Os jornalistas Andréa Zílio (secretária de Comunicação) e Tiago Martinello (editor de A Gazeta), que me acompanhavam na visita, também saíram convencidos da excelência da obra de R$ 100 milhões que pode ser definida como sustentável.

A composição societária do empreendimento sugere isso: tem o governo do Estado por meio da Agência de Negócios do Acre (Anac), a empresa Peixes da Amazônia S/A e a Central de Cooperativas dos Piscicultores do Acre (Acrepeixe) que representa 2.500 famílias de pequenos criadores. Essa turma detém 25% das ações assegurando uma participação incomum em negócios de grande porte na região.

A Fábrica de Ração, inaugurada ano passado, já está abastecendo os criadores locais. É toda automatizada e opera na fase inicial com 15 operários treinados pela empresa que montou as instalações. Quando atingir sua capacidade máxima, em 2015, estará produzindo 40 mil toneladas por ano, de ração com excepcional qualidade que além de atender o mercado regional poderá ser exportada para o mercado internacional, por meio do Pacífico.

A outra unidade que visitamos, o Frigorífico, tem atividades mais complexas e empregará mais gente. Neste começo de ano terá 260 pessoas trabalhando em três turnos. Não é pra menos: aqui o peixe chega ainda vivo na plataforma, passa por processos diversos de higienização e transformação, e chega ao produto final com valor agregado. O resultado poderá ser o peixe inteiro higienizado (sem as vísceras, escamas ou couro), ou filetado sem espinha. Nos dois casos, apenas resfriado ou congelado.

Com a paciência de um professor, Jair Baterline, passou cerca de duas horas explicando o caminho industrial do peixe. Nada se perde. O que é retirado na higienização e filetagem é canalizado para um tanque e vira matéria-prima para a fabrica de ração, onde é misturado a outros ingredientes enriquecendo o produto final. Os peixes passam por tanques de lavagem e de cara perdem as guelras para retirada do sangue. Num processo contínuo e rápido, prossegue por esteiras onde os operários fazem cortes, retiram couro e espinha, pesam e embalam. Daí em diante vão para potentes e enormes câmeras frigoríficas e destas para os consumidores.

Formado em administração de empresas no Rio de Janeiro, e também tecnólogo em processamento de carnes e derivados, Baterline trabalhou mais de uma década na Sadia e na Seara, no Rio, mais sete anos numa empresa de peixes (Mar e Terra) no Mato Grosso do Sul; em 2008, passou a coordenar o processamento do pirarucu na Amazônia; e em 2012 veio para o Acre. Com essa experiência, aos 47 anos, ele afirma com segurança que “o Acre passa a ter o maior empreendimento de peixe de água doce do Brasil”.

A conquista não surgiu assim de uma hora para outra. É uma história que começa em 1979 com o então governador Geraldo Mesquita, o Barão, considerado maluco por apostar na iniciativa considerada estranha ao Acre daqueles tempos. Logo apareceram outros “malucos”, como o engenheiro de pesca Júlio Resende, pernambucano, que assumiu a antiga Estação de Piscicultura em 1980 e hoje é um dos mais bem sucedidos criadores de alevinos; o ex-deputado estadual e federal Wildy Viana, que importou a espécie “tambaqui” de São Paulo; e por fim os filhos dele, o atual governador Tião Viana e o senador Jorge Viana que, conscientemente, seguiram a “loucura” do pai e do Barão na trilha da sustentabilidade acreana.

Quem duvida, perde a vida, pois o projeto do peixe tem tudo para se tornar mais um belo exemplo do Acre “para o Brasil e o mundo”, como nós, acreanos, gostamos de dizer.

Por Elson Martins
Jornalista

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